Resumo

Introdução: A emergência de cepas de Mycobacterium tuberculosis multidroga resistente (MTB-MDR) é um problema mundial de saúde pública, principalmente para os países em desenvolvimento. Técnicas moleculares para detecção de resistência e caracterização genotípica têm sido amplamente utilizadas e mostram-se como ferramentas viáveis para o diagnóstico precoce da resistência e estudos epidemiológicos, respectivamente. O Pará representa terceiro Estado do Brasil com a maior taxa de MTB-MDR, e apesar dos esforços do Programa de Controle da Tuberculose, este cenário ainda está longe de ser modificado, principalmente devido ao diagnóstico tardio. Metodologia: Um total de 93 amostras de MTB-MDR obtidas de casos de tuberculose pulmonar foi avaliado. As amostras haviam sido previamente submetidas ao teste de susceptibilidade aos tuberculostáticos (RIF, INH, PZA, SM, EMB e ETH). A caracterização genética consistiu na análise de regiões dos genes (i) rpoB e (ii) katG, inhA e ahpC, associados com a resistência à RIF e INH, respectivamente; e na genotipagem pelo método de Spoligotyping, para detecção de agrupamentos genéticos e famílias circulantes. Resultados: Entre as amostras de MTB-MDR estudadas 46,2% (43/93) foram resistentes somente a RIF e INH; 16% (15/193) a RIF, INH e PZA; 1% (1/93) foi resistente às seis drogas; e as demais exibiram variados perfis de resistência. Em 96,7% (90/93) das amostras RIF-resistentes foram encontradas mutações, presentes em 11 diferentes códons de rpoB, enquanto que 89,2% (83/93) das INH-resistentes exibiram mutações em pelo menos um dos três alvos investigados, nas seguintes proporções: 80,6% (75/93) em katG; 7,5% em inhA e 1% (1/93) em ahpC. Foram identificados 45 diferentes padrões genéticos por Spoligotyping, dos quais 37 apresentavam uma designação de SIT (Spoligotype International Type). Os principais clados foram representados por LAM9, X2 e H3. Um isolado foi caracterizado como Beijing (SIT1), representando o primeiro registro de circulação deste genótipo na Região Amazônica. Conclusões: Os achados deste estudo demonstram a acentuada diversidade genética de M. tuberculosis isolados no Estado do Pará, o que pode ser atribuído ao intenso fluxo de pessoas nesta área geográfica, afetando diretamente na dinâmica de transmissão de MTB-MDR na região.